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terça-feira, 5 de agosto de 2014

Juventude de Fibra - Um pouco sobre Bruno Nogueira

Lei de cotas reduz diferenças no trabalho. Norma legal completa 23 anos e contribui para a inclusão de deficientes na vida laboral.



Por Guilherme Paixão
Direto de São Paulo

A história de Bruno Torres Nogueira, 19 anos, poderia ser diferente. Deficiente, com encurtamento nos membros inferiores e superiores, tinha tudo para dar de frente com muitas barreiras na vida social e profissional. Mas a realidade é outra. Alegre e persistente, suas limitações nunca o impediram de realizar uma tarefa sequer. E a Lei de Cotas, que completou 23 anos na quinta-feira (24/07), contribuiu ainda mais para a sua felicidade.

Atualmente, o morador de Mauá é funcionário da sede da Via Varejo, detentora das Casas Bahia e Ponto Frio, em São Caetano do Sul. Atua na área de Treinamento e Desenvolvimento. Para a supervisora do Padef (Programa de Apoio à Pessoa com Deficiência), da Secretaria Estadual do Emprego e Relações do Trabalho, Marinalva Cruz, Bruno Nogueira é exemplo de que não há diferença entre pessoas com e sem deficiência. “Há muito desconhecimento sobre o assunto, isso sim. Mas a Lei de Cotas exerceu papel muito importante nesses 23 anos e ainda será essencial. O ideal, inclusive, é que no futuro ela não seja mais necessária”. As empresas com mais de 100 funcionários são obrigadas a contratar deficientes para completar entre 2% e 5% do quadro de funcionários.

Limite é uma palavra que não pertence ao vocabulário de Bruno Nogueira. Diariamente ele lida com negociações e análises, dialogando diretamente com treinandos e superiores. É um dos integrantes importantes nas reuniões que definem os melhores caminhos de sua seção, já que tem como uma das responsabilidades a administração de dados e gestão de pessoas.

Trajetória

Talento é a palavra correta para definir o seu perfil. Uma semana depois de colocar o currículo no site da Via Varejo, já foi convocado para entrevista de emprego. A companhia necessitava de funcionário para a área de crediário de uma de suas lojas. Ele ainda enfrentaria três etapas de entrevistas para garantir o seu primeiro emprego de verdade, pois já havia dado aulas particulares para vizinhos. “Eu estava muito nervoso no começo. Isso porque é uma baita empresa. Mas lidei muito bem com a situação porque já tinha passado por pressões muito maiores”, explica Bruno.

Um desses momentos foi no fim de 2012, quando participou do processo seletivo da Rede Globo. Queria contribuir com reportagens da sua cidade para o telejornal SPTV. Não foi simples a seleção. Ele disputou com mais de 7.000 inscritos que tinham o mesmo desejo. E percebeu, naquele período, que suas limitações, realmente, não conseguiam frear suas vontades. Classificou-se entre os seis melhores candidatos.

“Infelizmente, entre eles, queriam alguém com mais vivências. Eu ainda estava terminando o Ensino Médio. Mas me trataram muito bem, com igualmente aos outros candidatos. Foi muito gratificante”, recorda Nogueira.

Naquela época, estava pronto para ingressar em uma faculdade de Jornalismo. Caso fosse escolhido pela Globo, esse seria o seu destino. Mas como o destino mudou o curso de sua vida, decidiu por caminho mais abrangente. Prestou vestibular e deu início a faculdade de Administração. Talvez, essa decisão tenha sido um pedacinho do passaporte para ser efetivado na Via Varejo.

Falante, Bruno Nogueira se sente querido por onde passa. “No trem, indo para o trabalho, todos já me conhecem e me ajudam sem que eu peça”, conta. O desempenho e a habilidade social e profissional foi tão destacada na empresa que, em questão de meses, foi promovido na área de Treinamento e Desenvolvimento. Agora empregado, ele está mais próximo de um de seus sonhos. “Quero pegar, tirar minha CNH (Carteira Nacional de Habilitação) e comprar o meu carro. No momento enfrento as diversas questões burocráticas para alcançar este sonho, porém com paciência e um pouco de sorte, tenho certeza de que tudo se resolverá de forma positiva”.

Enquanto ele não alcança o desejo, se diverte muito saindo com os amigos e, aos risos, revela que bebe socialmente. Mas não deixa a saúde de lado. Faz musculação várias vezes por semana, joga futebol, e brinca com a situação. “Para tudo dá-se um jeito. Tenho isso como um dos lemas. A única coisa que não consigo fazer é amarrar o cadarço. Então o coloco para dentro do tênis. Não entendo porque as pessoas ficam chateadas e revoltadas com a vida. Porque isso, porque aquilo. Eu não desisto. E está dando resultado”, garantiu Bruno.

O mais importante é que dentro da empresa nunca sentiu preconceito por parte dos colegas de trabalho. Um dos motivos pelo qual mais lhe empolgam o objetivo de um dia, “quem sabe”, chegar à diretoria da companhia. Revela o menino sonhador que, tem como objetivo para o restante de 2014, e início de 2015, especializar-se em ministrar palestras motivacionais, relacionado ao alcance dos objetivos, e a inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho e na sociedade, a qual inclusive já está com o briefing de palestras pronto, em divulgação, e aguardando somente possibilidades para que possa colocar o trabalho em prática.