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segunda-feira, 28 de abril de 2014

Novo 'Fantástico' tem muita tecnologia e pouco conteúdo

Sobraram efeitos especiais, faltou conteúdo interessante. A estreia do novo Fantástico, na noite de domingo (27), não apresentou justamente a essência que marcou o programa ao longo de 40 anos: reportagem. É um erro acreditar que cenário tecnológico e aumento da interatividade com o telespectador são suficientes para revitalizar o formato. A 'cara nova' da revista eletrônica parece ter efeito meramente cosmético.

Os apresentadores Tadeu Schmidt, mais humorista do que nunca, e Renata Vasconcellos, glamourosa como sempre, agora comandam a atração da redação-estúdio. Os produtores que fazem o programa ganharam visibilidade com a exibição de trechos das reuniões de pauta. Abrir os bastidores desperta a curiosidade do público. Mas não há novidade alguma nisso.

O cenário tem telão moderno, minipalco, sala de visita e até um bar para conversas pretensamente informais. O melhor do show de inovação foi o robô de telepresença, que permite a um repórter fazer sua matéria de qualquer lugar, sem ficar cara a cara com os entrevistados. Será que é isso o que o telespectador realmente quer ver?

Durante o programa surgiram na tela os 'fantcons', carinhas animadas que são uma espécie de termômetro dos assuntos discutidos. Engraçadinho, porém desnecessário. Para explicar as reações do organismo no corpo do adolescente que viajou no trem de pouso de um avião, nos Estados Unidos, usou-se um holograma em tamanho real do menino. Essa tecnologia de ponta foi contraposta aos artesanais cavalinhos de pelúcia que representam os times do Campeonato Brasileiro, feitos por manipuladores de bonecos. "Fofos", definiu Renata Vasconcellos.

A matéria especial se revelou decepcionante: a repórter Lizzie Nassar passou 24 horas como interna na penitenciária de segurança máxima de Catanduvas, no interior de São Paulo. O que se viu foram muitas imagens ao estilo Big Brother e pouca informação relevante sobre a experiência de estar na mesma prisão de Fernandinho Beira-Mar.

A jornalista parece ter ficado tão emocionalmente abalada que não conseguiu narrar com fluidez o que viveu. Faltou emoção, tensão, algum dado inédito. Os jornalistas do Profissão Repórter já produziram material bem melhor em situação semelhante.

Gravada em Paris, a partir da ideia original de um designer francês, a vinheta de abertura mostra a coreógrafa Cathy Ematchoua fazendo movimentos que lembram artes marciais. Ela interage com elementos gráficos.

A impressão é que, para tentar reverter a decadência do Fantástico, a Globo pintou as paredes, comprou móveis novos e equipou a casa com eletroeletrônicos de última geração. Só esqueceu de consertar o telhado. O programa está esteticamente bonito e repleto de efeitos modernosos. Porém não ofereceu o conteúdo "surpreendente, vibrante" anunciado pelos apresentadores.

Os dados prévios do Ibope indicam que a estreia do novo formato conseguiu média de 16,5 pontos. Um número melhor que o recorde negativo do ano, registrado no domingo anterior: 14,4. Contudo, ficou abaixo da média de 18 pontos alcançada nestes dezessete domingos de 2014. O simpático robozinho, batizado pelos telespectadores como Tilt, terá muito trabalho para fazer um upgrade convincente no Show da Vida.

Fonte: Terra